Se o teu coração parasse
Eu o colocaria no meu prato
Temperaria-o de medo e ódio
Espirrando fel e sangue
Morder-me-ia de apetite faminto
Consumindo o descarnado
Da minha alma ruim de tão magra
Acabei-me consumindo de raiva
Por toda a humanidade
Raça triste igual a um coração cru
Transbordando de sebo num prato esmaltado
Eu inclino minha cabeça animalesca
Esmagando esse músculo putrescente
Num bafo devorador e vesgo
Não é fome - é ódio
Òdio de ter fome
Ódio de você
Òdio de você tendo fome
Se você continuasse vivo
Vomito litros de saliva
Engolfo nódoas de gordura
Sorvo arrotos sôfregos e vermelhos
Inalo sufocado o aroma nu
Da tua persistência carnal
Da tua insistência carnívora
Pobrezinho do teu coração!
Agora está sendo dilacerado
No ácido gástrico em entranhas
Nauseantes e figadais, cânceres
Da tua negligente ânsia de viver
Ânsia de vômito em cima de viver
O teu coração é indigesto
Arrependo-me de tê-lo comido
Mas agora só há uma saída
Como é belo o curso natural
Que dá um fim adequado ao teu sentimento
Visceral, estrangulando biologicamente
Mal-cheirosos suspiros de alívio
Um pedaço de resto imundo
Indo por água abaixo
Envio as condolências dando a descarga
A tua marcha fúnebre é rumor
De água podre afogada na depressão do vaso
Inundando a carniça em frangalhos
Da tua vidinha de mérito algum
Fede nas trevas do esgoto
Parasita no arroio do esterco
Coagula no mistério tubular
Dissolve minha ira no Elísio dos vírus
Casamos nossos ódios
Num casamento de dar nojo
Acalma-te! Não vê que tudo isso
Ainda é pouco?
Foi só meu café,
Preparado pro almoço?
Nenhum comentário:
Postar um comentário