Recuperando o que sequer perdi. 
O nada machuca, 
é uma arma fria 
que mantenho comigo há tempos 
e às vezes resolvo emprestar 
a pessoas que se ofendem 
e a devolvem com ferozes rostos. 
Eu não posso fazer nada... 
Está dentro de mim, 
um vácuo, 
preenchido seja por pejo ou desejo. 
Quando se preenche é quando eu o empresto. 
Se conheço o desfecho, 
por que continuo? 
Já disse o que posso fazer... 
O nada me consome, 
o mesmo nada que criou 
tua aversão me tira da razão. 
Nada vejo no teu rosto 
e no entanto nada me impede 
senão esse mesmo nada. 
Eu nado na dor 
desse rio vazio 
e ascendo na neblina púrpura 
de miríades perjuradas no horizonte 
e só eu sei que isso nada é. 
Mas quando o rio se enche 
com uma maré de vergonha 
todos vêem e ninguém se cala. 
O murmúrio é mais tresloucado que esse nada, 
ressoa nos cantos, 
volta, se esconde, e caso ninguém o ouça, 
tenha certeza que ao menos ele ecoa 
e isso já basta para preencher 
esse nada que aliena-se do meu. 
Eu testo o eco; 
quanto mais berro mais doem meus ouvidos. 
Depois de tudo
nem posso agradecer por nada que me reservaste, 
para ter o prazer de te ouvir dizendo 
"de nada".
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