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domingo, 27 de março de 2011

Cruzada

 - A cruz que usas no pescoço...
   Apenas é um adorno
   ou tu és um sincero crente cristão?
 - Sim, eu acredito. Sinceramente.
 - Mas eu quero removê-la, caso não saibas.
   E nunca mais usar esse atavio de novo!
   Não estás falando estranho, querido?
   Teus olhos estão cerrados tanto...
   Cegos e ébrios pela paciência de Deus.
   Por quê, quê essa imagem continua a dizer
   Enquanto teu Deus conversa cegamente contigo
   por cruzes?
 - Queres me tirar minha cruz pois estás defendendo...
 - Defendendo ninguém!
   Não. É incumbência minha descortinar-te
   de usar o símbolo de uma deídade fraudulenta.
   Minha existência está buscando-a
   A porta secreta que liga à minha verdadeira Criadora.
 - Não precisa de portas para encontrar Deus!!
   Se você acreditar...
 - Acreditar?!
   Tu acreditas que és...
   Deus.
   Olhas em volta neste mundo e vês a bondade Dele...
   Intrigas, pestilências, assasínios, doenças e morte.
   É isso que existe, querido...
 - Há também amor e vida, querida!
 - Apenas para parvos feito você.
   Não. Se existisse um Deus  de amor e vida
   Ele já estaria morto há tempo.
   Alguém...
   louvaria o tormento.

domingo, 13 de março de 2011

Longe dos Teus Portões

Ouça quando digo
Quero sair da calidez
A que vem a ser teu caminho
Espíritos rastejando
Atrás de cada lágrima de medo

Sinta quando vejo
Quero sair da calidez
A que vem a ser eu

Uma chuva desce
Cercando-me no âmago
Uma vasta cova
Funda para te alcançar

Tudo morre
Nada funciona
As coisas vão sem fim

Só quero saber das coisas que se foram
Só quero saber das coisas distantes
E quando escapo
É sempre mais do que posso
Só quero saber das coisas
Quando preciso de ti.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Fruitivo

I

Veja só,
Deus está mudo
Muito atento ao momento
Que Lhe rendo esta blasfêmia.

Você acha que foi fácil...
Não sabe o quanto demorou...

Teu silêncio e até Teu sangue
Derramado pelo Teu primogênito
São em vão -
Atirados em esquecimento implacável

Não consegue salvação quem não é Teu filho
Sou um anátema desgraçado
Que te põe pra chorar de remorsos
A cada noite imprecada de trevas
Que omito orações -
E são todas, bem sabes...

Que a condenação para mim
É Redenção.
Assim fico livre da Tua tirania,
Num recanto de selvageria
Feito especialmente para mim.

Senhor, que contradição...

Se todos que enxergo na multidão
Louvam a Ti,
Ou eu devo Te odiar ao infinito
Ou as Tuas lamúrias assim o são.
Assim o maldito se banha
Na tempestade de Tuas lágrimas lamentosas.
Quem consegue parar a chuva mesmo?

De qualquer forma será...

Como Tu permites tamanha insanidade?
Confias deveras no Inferno que me espera?
Onde serei rei?

Veja a lentidão de minhas palavras
Recriminando-Te miseravelmente
Como Tu fizeste com todas as bruxas,
Que rompem os séculos
Na lentidão das minhas palavras.

Vitória sobre Ti,
Amor sem fim.
Inocente e jovem
Os que dele provem

Basta!
Arruinei tua Igreja
Profanei Teus filhos e filhas bastardas.
Num moinho de te encegar
Trapaciei em todos os encontros,
Com minha presença sombria
Obnubladora de saudações -
Insalubres nuvens negras.
Todos os Teus filhos acreditavam
Piamente, até mais do que em Ti.

Pois eu sou pura carne cadavérica
Putrescente na Terra Prometida,
Infiltrando nojo nas narinas
Dos que se ajoelham por Ti -
Ainda oram por mim...
Aprendizado é inexistente...

II

Aprendizado é inexistência
Adentro dela me vou sem dó
Reino de prazeres inalcansáveis.

Morte é Vida.
O que você acredita
Mentira e farsa.
Deus à tua caça.

Acorde maldoso
Durma comigo para sempre!
Durma mal ígnea guia.
Pretexto paradisíaco.
Consome úmida ida
A única que leva
À geleira do Inferno -
Eterno inverno
Onde minha virgem espera.

Em uníssono cantamos:
"Como ser sensível sem ser sem esse véu?
Aqui nos encontramos,
Dádiva da deusa recusa nesse Céu."

Maldição de mil miséria
Linda aliança da linhagem malígnea,
Farta de fés infundadas e infames,
Cria credos de descrença concreta.
Abstração nas trevas, traindo três travas

Loucura é meu perfume predileto
Arde como ácido nos olhos alheios
Ternura dedico a todos os ridículos
Viventes rebelados contra a beleza da natureza
Bíblica da Babilônia dos Teus bla-bla-blas.

Mais uma alvorada corrompe
A lerdeza lastimosa da minha grafia
Hora da retirada para a imortalidade
Através dos portões inferiores -
Os olhos do suicida.

O azul desse céu,
A negritude minha nessa terra,
Contraste doloroso no Teu rosto
Reflexo convexo de miríades meridianas
Escorrendo cor de sangue afora minhas demência.

Morre agora a esperança de Te ver
Agonia sem limites, finalmente...
Nada a ver, Tua eternidade, meu cadáver.
Creia feliz, cada final mente.

Assim como Deus... Eu adoro enganar os outros.