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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Cúmulo da Falta do Que Fazer

Num canto remoto
Aonde seus olhos não enxergam
Eu disse que ia tentar escrever um poema
Se o Tempo permitisse

Implacável, ele não permitiu,
Mas estou tentando,
Estou tentando, tentando...

Mais uma vez estou aqui e você aí,
Será mesmo?
Será que nesse momento algum de nós
Existe de verdade?
Se existe, quem?

Enquanto escrevo aqui,
Muitos vivem por aí.

Daqui a pouco você termina de ler,
Esquece tudo e retoma sua vida
De sei lá quantas preocupações

Enquanto então estarei só preocupado
Em te preocupar mais uma vez
Sem ao certo saber se conseguirei

Viu qual a minha desafortunada função?
Tem gente aqui, tem gente se matando aqui.

Viu, começou de novo, não sei o que escrever!
Me ajuda por favor, eu te dou uma linha,
Uma linha inteira só para ti se quiser, toma:
...

Obrigado pela ajuda, foi de muita serventia.
Não tens noção!
Valeu-me muito a tua poesia,
Mesmo que você  se pergunte se isso é um poema
Por que afinal, rima aqui algum fonema?

Certo, venceu, te enganei, foi um acidente
Não era minha intenção, meu irmão
 - Só se tu me atirares um ovo...

Ah não, pura tentação!
Não é um ovo, é uma maçã!
Não Adão!!

Vai, goza da culpa feliz que nos valeu a redenção.
Pois quem não tem nada pra fazer
Sempre acaba fazendo alguma coisa.
Mesmo que uma delinquência,
O fato de você estar lendo essas linhas
Te diz alguma coisa?

 - Coisa alguma!
Mas se você chegou até aqui
Comece a desconfiar pesadamente
Dessa prosa em verso.

De forma alguma, mefistofélico,
Não é a cruz que está inversa,
E sim você!

Podes ainda alegar que essa estapafúrdia toda
Já está há muito desgastada,
Uma forma utilizada por muitos.
Sim, eu sei, talvez uma pessoa...

Não estou nem aí -
Borre quem pinta,
Jure quem minta,
Leia quem sinta.

Hoje é aniversário de um amigo.
E é você, grande leitor!
São quantos, dezoito?
Então eis aqui o teu presente
Que ausente, mas com carinho te entrego
Nas tuas mãos robustas.

O termo desse torturante Traum...

Espere, ei!!
Não acabei!
Não leu direito, o sonho não acabou!
Nem sei se vai acabar.

Ou...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Elegí-a

Milhares de lágrimas de uma mulher sem máculas
Preenchida até a alma de sentimentos suicidas
Trajada de luto eterno lamenta adentro do inverno
Gélido fatalismo a faz abandonar meros sorrisos
Lua minguante setentrional falciforme
Mira impiedosa o pálido pescoço inocente
Latejando uma miríade venosa desesperada
Curva-se em preces de morte, sábia da própria sorte
À beira de uma fonte cristalina, estremada pela cruz
E em ti outra fonte flui, e outra cruz te pesa

Nada curará essa demasiada dor
Nada abrirá em teus lábios risos
Nada rearranjará essa macilenta depressão

Tua inócua contrição de nada presta
Insólita és, frau, tua oração é vazia
Vazia feito teus tristes olhos anis celestiais

Mas o céu se fechou com cortinas de aço
Não erga os olhos, esqueça o paraíso
Sem cessar os lamentos, tome o cálice
De sangue real que te prostra
Para muito além do campo deste mundo

Aonde as trevas dominam
Aonde o pesar se agrava
Aonde o escoro é a solidão

O mais certo dos caminhos te aguarda
Tão certo quanto teu próximo pecado
Tu e tua sombra são um só ser
Aura sombria te envolve, te mergulha
No mar trincada e pavoroso de escuridão

Rume-se para lá com tuas tristezas
Pois sem perceber nasceram em ti asas negras
Da cor e feição dos teus ânimos.

És agora um anjo soturno
Anjo frágil feito flocos de neve
Descenda e se derreta de leve.
Cruel foram contigo, sem piedade.
Ainda se perguntam por quê...

Estenda tuas tenebrosas asas
E voe para longe do pior dos aeons
Abandone a amargura da vida
Tua última gota de lágrima
Será o cataclisma final dos mortais
Tua última gota de sangue
O manjar dos enófilos deuses

A fonte secou.
A cruz caiu.
Nada lhe resta -
MORRESTE.

Contudo não temas
Esse obscuro lugar é melhor,
E qualquer coisa
Quem te adora lhe renderá uma psicagogia,
Ou como eu, uma elegia.

Uma elejo -
És tu, meu anjo da morte!
Leve-me contigo para a eternidade...
Nas asas de atração sombria,
Longe desse maldito mundo
Aonde ninguém lamenta
Vivendo da mentira e hipocrisia.

Jamais esquça tuas dores,
Tuas lástimas,
Tuas perdas,
Tuas tristezas,
Tuas aflições,
Ressinta-as sempre.
Depois nos évos ressoarás:
"Sou um anjo que elegia."


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Hipnotanático

Quero dormir e não consigo
Quero sonhar e é contigo
Quero que a morte a traga consigo
Quero que ela durma comigo

O Lado Inexistente

Tens certeza de que é uma alvora?
Não seria uma ilusão por ti criada?
Mentiras brilham durante o dia.
Ardem meus olhos tal hipocrisia.

O branco dos olhos agora é vermelho
Pretos depois que a noite veio
Acalmar a distinção flamejante
Pondo-me a par da igualdade brilhante

De um lado a verdade, do outro a mentira
Aqui reina a noite, lá o dia
Mas um lado prevalece

Quando a realidade aparece
Vejo tudo como é
É quando fecho os olhos até...

O fim.

sábado, 16 de outubro de 2010

Dama das Cidades das Trevas

Brotando de uma visão sanguinária
Teu corpo nu banhado de vermelho
De costas, contorcida, vês minha face esquálida

Olhos mortiços, mas não digo velhos
Fitam-me sórdidos e me mesmerizam
Linhas escarlates enfeitam teus cílios

Uma negra cachoeira descende lisa
Nela entremeiam-se lâminas de guerra
Uma incógnita investida

No teu colo aberto, talvez serras,
Martelos, bastões de espinhos, armas brancas
Cortam-te, bélicas insígnias da Terra

Conduza-me ao teu mundo de fatalidades francas,
Invencível reino eritrárquico,
Lá aonde tua sanguinária visão me abranda.

Altar

Um imprevisto.
Garanto que não mais para ti do que para mim.

Adentro a catedral, enfeitada e ansiosa,
Mas estranho um deserto silencioso.
Nenhum murmúrio, nenhum ruído,
Só um misterioso silêncio ouço,
Com esforço, cruzando os dedos
Para que eu esteje errada.
Resbalam-me ao ouvido vozes
Que sussurram aparentes desolações.
A calma não muito dura,
Ergo-me profusa, buscando augúrios.
Refletindo o silêncio que ouvira
Eles são dos piores pensáveis.

Confirmadas as recentíssimas expectativas
Saibo que tu não vens - que surpresa...
Inexpressiva, curvo-me e agradeço,
Nada me resta a deixar a catedral, tão cedo.
A inexpressão se desmancha nos meus passos
Vagarosos, refletindo minha completa desolação.

Desço os degraus e desço em desânimo em mim,
Desditoso imprevisto, desditosa suspresa...
Será que tu sumiste só por quê gosto de ti?
Ânimo? Vontade? Força? Vivacidade?
Não diz-me isso a catedral que se desmancha.
Mancha meu vestido prendado, preparado a ti.

Passei dias empolgada, calma mas apreensiva
Por essa alinça em cima do altar,
Por esse sim de afetuosa sinceridade,
Por esse juramento inexorável aos olhos divinos,
Por esse sacramento de amor mútuo perene
Por esse beijo, prímicias da noite primeira.

Certo, amável, tome teu caminho!
Teu cadáver animou meus sentidos
E agora só há no meu sangue ódio.
Rancor do teu incorrespondido amor
Adorna meu véu, uma rosa negra
E juntas, crescemos à uma nova via

Via ele no altar pagão,
Beijando aquela a quem eu desejo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Alucinação Antropófoba Flebilizante

Não se esqueceram as trevas de mim
Quem se esqueceu fostes tu
Para enxugar as feridas teu escarlatim
Para banhar a vida teu azul

Deslizando linhas latentes e letárgicas
Lembro-me lânguido da tua libidinagem
Flui a fonte de falecidas falas fantásticas
Fluxo fino feito tua íntima foragem

Desejo eterno de narcolepsia
Despertar sempre me asfixia
Delírios intensos e hipnopômpicos

Mesmerizado, náuseas e vômitos
Mesmo mantendo a militância
Máxima da minha da minha extravagância

domingo, 10 de outubro de 2010

Aléia Desventurada

A noite desaba sobre minha cabeça
Perçebo a sombria solidão que me envolve
Ninguém há no caminho que faça com que esqueça -
A maldita lembrança que não se dissolve

Vestido de uma mortalha
Empalideço e vou indo cadavérico
Marchando no fio da navalha
Seguindo só as sombras de um séquito

Minhas esperanças repousam aonde
Os paralelos se encontram
Mas eu nunca chego lá

Fatalmente predestinado monge
Amortalho-me e os tecidos não sangram
A vida inteira - um caminho para cá.

não é o que parece...

melhor que eu não escreva...
que fique no sonho...
foi tão bom, não sei como dizer!

nem estava com vontade de escrever...
impedido pela própria pena...
cada linha uma tortura...

ah, que droga! não sei porquê ainda escrevo!
sem inspiração, sem ânimo, sem sentimento...
tudo se foi, já era, acabou...

você acha mesmo que isso é um poema?

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Trevas Caninas

Curva todo torto a fuça pra frente
Sedento do líquido tão imundo quanto ele

É todo prazer ao lamber os vermes molhados
Reflete na fauce toda aquela miríade feliz

Insaciável por todo o corpo sujo
Não vai parar até secar essa rasa fonte

De repente, por acaso, deixa de lado, farto
Já esquece o manjar bacteriano lhe reservado

Sai limpo, mas preto na essência
Na aparência não menos

O olhar bestial lambe-se
Sem ter noção do ciclo infinito
Que ilumina sua rua

Teutônica

Enlutada, és mais bela que a densa noite.
Vestes contrastantes, de um tom sombrio.
Na ausência de cores, apresenta-me tua beleza.

Lábios ensanguentados dão vida
Aos nossos corações, fontes escarlates.
Teu sangue me diz tua linhagem num beijo.

Quase ao chão vai teu áureo véu,
Mais precioso que todo o ouro.
Brilho solar em forma de fios finos.

sábado, 2 de outubro de 2010

A Dúvida de Siegfried

Observando melhor a multidão
Incomo-me infelizmente incomparável
Todos mantêm-se num não
Faces de felicidade infindável

Ruídos, murmúrios, vozes, assobios,
Ouço entre tudo estranhas melodias
Algo me diz algo sombrio -
O enigma do meu dia-a-dia

Afinal qual a última instância de mim...
Agora essa estância me estranha muito.
Quebro o vime - rime e mime,
Pois a ti que, já conturbado, pergunto

Por que teu perfeito trabalho lhe desgosta?
Fico demais instigado, tanto que ainda cismo
Tudo te pergunto mesmo não me dando resposta
Não duvide que desejo profundo um mimetismo.