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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Agora?

Agora não é hora!
É hora de ir embora
Ir para minha senhora
Sem a hora, me dá um fora
Mas tento sem demora
Mais lento vou afora
Pra dentro vou 'a forra
Mas agora me pedes tanto?
Só depois de tanto pranto?
Esconda teu espanto!
Conta no teu canto
O número de quem te adora
Agora.

De Neve

Perdida e nua na neve
Cambaleias tua agonia sem rumo
Sonhando, na mente o testamento já escreves
Leito de morte branco será teu túmulo

Porém no horizonte da alvitude
Avistas a custo um rio rubro
Corra, decline para lá tua finitude
Desespero é esperança dos confusos

Já às margens, joga-se de joelhos
Alumbrada com o fluxo escarlate
A correnteza aviva teu cadáver em vermelho
Venosa revivescência na essência do desparate

Alimento é a ti oferecido
Então, beba desse rúbeo fluxo
Na frieza da natureza nascida
Sugue esse sangue suxo

Mas não sem antes libar àqueles
Que na nascente, morrem por ti
São deuses apaixonados cheios dos seus seres
Fazem da foz no frio, oferenda ao fim

Das gélidas montanhas, dama, ouve-os?
Não, cegos são pois tua palidez emudesce-os
Desgosto vinífero causaste a eles - louve-os!
Tome do teu ensífero verbo o efeito, assim efervesce-os

Ah, ébria! Tudo isso é falta de sobra!
Sentes agora um calafrio de remorso
Turvas vistas nas quais tuas compunções redobras
Incontida elitrorragia aflui o prognóstico

Se vês sem saída - aliás uma só
Atira-se turbada no tumular talvegue
Do branco ao vermelho sem de si dó
Inunda tua funda formosura e diz "me navegue..."

Pois por amor foi tua agonia
Agora, imerges nos abismos do mar.
Que renasças num novo dia!
Para que possa se atentar no amar

de novo

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Onírica

Desejos dos beijos
Na nua lua carne crua
Salgada de sentimentos

Choras não por me achar
Sim por se perder ao se deitar
Aliviando teu vício aqui
Aquiesce teu só ali

Noturno véu descubro
No turvo céu vislumbro
O sabor da sábia esbelta
Delícias adentro do delta

Linda neblina langue
Tão branca, um brinco de sangue
Pendurado perdura perfulgente
Gente não mente no dizer-te avivente

Sem fim és assim para mim
Não tremo à estrela que aquece
Amanhece mas a mente não esquece
A landgravina lenitiva de Berlin

De novo vens tu e tua violência
Branda de braços que abrem
Um velho vidro que desvaira vinolência
Quebranta-me toda ébria - me abrenhe...

Só que foi um sonho só
Desperto e... nem de perto!
Com tato desejo dormir - contigo dama.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Nativinte

A doçura da tua mão fez uma chaga incurável
No meu desejoso mas inexpressivo rosto.
Eu até brinquei alimentando esperanças
Mas o disparo não passou disso só.

Bom que agora ao menos finges que existo
Pois naquele dia teu véu foi um duro escudo.
Agora, quando ninguém vê, fito tiras de seda
Que quando presas, libertam teu lado mulher

Debochaste ao me ver na corda bamba.
Sinto muito por esse presente abstrato,
Mas não fui eu quem filosofou desta vez!
Tudo bem... é só uma melodia que sangra em mim.

No escuro todos te jubilavam cantando
Enquanto eu sossegava triste e te enxergava
Extinguindo a chama que bem podia ser a minha.
Relampejou nos meus olhos um sopro de morte.

Um pedaço da tua amargura me deste em mãos.
Toquei-as retribuindo tua educação singela.
O gosto é um sonho eterno de puro amor,
Se pudesse medí-lo aqui seria exatamente um quarto.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Teu Bem Queres

Pensei em partir por ti
Teu corpo me consome
Tu, fonte dos meus desejos
Estás me afogando

Fazes-me sangrar aqui e ali
O oceano vermelho dá-me fome
Só saciada por teus intocáveis beijos
Em ondas de meandro

Queres me jogar do penhasco?
Queres me mandar à forca?
Queres me dar estricnina?

Sei que não queres me dar um abraço
Sei que não queres me mandar força
Sei que não queres me jogar menina

sábado, 4 de setembro de 2010

Tanatológico

Morte venha a mim
Meus sofrimentos são sem fim
Persistir nessa existência
Um ato de demência

Caminho rumo ao termo
Pesaroso e enfermo
Desejando logo o cessar
Desse martírio de azar

Tristeza preenche minh'alma
Viver é um trauma
Imposto pelo destino
Dentro dele me fino

Derrubando a resistência
Rastejo-me na desistência

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vício de Entusiasmo

Vês agora meu pranto desatado?
Cada lágrima por ti ajoelhado?
Quase morrendo aos poucos
Vivo com desejos soltos

No entanto jazes tu indiferente
Presa por teus instintos ardentes
A um coração que tanto anseias
Cega a ele por suas veias

Depressão desabrocha por dentro
Cadáver prostrado em marasmo
Sangue compassa meu centro

Percebendo-os, padeço em desespero
Sentindo um vício de entusiasmo
Que me quebranta quando te quero