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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Elegí-a

Milhares de lágrimas de uma mulher sem máculas
Preenchida até a alma de sentimentos suicidas
Trajada de luto eterno lamenta adentro do inverno
Gélido fatalismo a faz abandonar meros sorrisos
Lua minguante setentrional falciforme
Mira impiedosa o pálido pescoço inocente
Latejando uma miríade venosa desesperada
Curva-se em preces de morte, sábia da própria sorte
À beira de uma fonte cristalina, estremada pela cruz
E em ti outra fonte flui, e outra cruz te pesa

Nada curará essa demasiada dor
Nada abrirá em teus lábios risos
Nada rearranjará essa macilenta depressão

Tua inócua contrição de nada presta
Insólita és, frau, tua oração é vazia
Vazia feito teus tristes olhos anis celestiais

Mas o céu se fechou com cortinas de aço
Não erga os olhos, esqueça o paraíso
Sem cessar os lamentos, tome o cálice
De sangue real que te prostra
Para muito além do campo deste mundo

Aonde as trevas dominam
Aonde o pesar se agrava
Aonde o escoro é a solidão

O mais certo dos caminhos te aguarda
Tão certo quanto teu próximo pecado
Tu e tua sombra são um só ser
Aura sombria te envolve, te mergulha
No mar trincada e pavoroso de escuridão

Rume-se para lá com tuas tristezas
Pois sem perceber nasceram em ti asas negras
Da cor e feição dos teus ânimos.

És agora um anjo soturno
Anjo frágil feito flocos de neve
Descenda e se derreta de leve.
Cruel foram contigo, sem piedade.
Ainda se perguntam por quê...

Estenda tuas tenebrosas asas
E voe para longe do pior dos aeons
Abandone a amargura da vida
Tua última gota de lágrima
Será o cataclisma final dos mortais
Tua última gota de sangue
O manjar dos enófilos deuses

A fonte secou.
A cruz caiu.
Nada lhe resta -
MORRESTE.

Contudo não temas
Esse obscuro lugar é melhor,
E qualquer coisa
Quem te adora lhe renderá uma psicagogia,
Ou como eu, uma elegia.

Uma elejo -
És tu, meu anjo da morte!
Leve-me contigo para a eternidade...
Nas asas de atração sombria,
Longe desse maldito mundo
Aonde ninguém lamenta
Vivendo da mentira e hipocrisia.

Jamais esquça tuas dores,
Tuas lástimas,
Tuas perdas,
Tuas tristezas,
Tuas aflições,
Ressinta-as sempre.
Depois nos évos ressoarás:
"Sou um anjo que elegia."


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