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domingo, 7 de novembro de 2010

Urias de Michelangelo

Imóvel, esculpido em pálido granito,
Moldo-me ao meio parado.
Sempre o mesmo gesto e sorriso perpétuo,
As mãos sobre o colo, acomodando-me ao vazio.
Expresso o mesmo que uma rocha à paisagem.
Sem espírito, sem semblante, sem graça.
Meu escultor é anônimo de tanta vergonha.
Não adorai imagens, irmãos...

Ainda assim chamo mais a atenção que Davi
Aonde vou as pessoas comovo de estatelar,
Também seje de lágrimas ou de raiva
Esta tua reação é cega de vigilância
Como pode o silêncio te aturdir tanto?
Verdade é que vês coisas que não existem
Santidade num pedaço de carne.
Não adorai imagens, irmãos...

Tão inerte, ando até sobre as águas
O concreto é nada, esfarela-se ao pó
E volta ao pó, mantendo-se sempre só
Só uns transeuntes que param, olham e vão
Em vão me movo, é tudo tão mínimo
Ninguém se dá ao desprezo de notar - será?
Será milagre um paralítico a outro salutar.
Não adorai imagens, irmãos...

Palavras movem a pétrea tetraplegia
Nem que seje no motejo da brincadeira.
Vida há muito brota, uma flor saxátil.
Mas afinal todos perderam os sentidos -
O coração de pedra pulsa?
Rebento as ondas e não gero rebento
Arrombe-se a sensibilidade pigmaleônica!
Não adorai imagens, irmãos...

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